Eu devo gostar muito mesmo desse site... Ou ser muito nerd mesmo... Acabei de chegar do trabalho de campo que citei no post anterior. Ainda estou com a roupa que vesti antes de sair de São Carlos (última cidade que visitamos), com direito ao coturno no pé e malas largadas por todo o quarto, e estou aqui, postando no site.
Bem, vamos por partes. Acabo de verificar meus e-mails e uma boa notícia, ao menos pra mim (ego 100%): Virei pesquisador financiado pelo Governo do Estado de São Paulo. Sim, sou bolsita de pesquisa cientifica! Ser pago pra estudar o que gosto. A faculdade nunca me foi tão bela e necessária como agora, o que me faz continuar a desejar dar aulas no cursinho comunitário que leciono, o C.P.U. Gauss, de Atibaia.
Segue parte do e-mail que recebi:
"São Paulo, 11/05/2010
Ref.: Processo 2010/07603-4
Conforme comunicado anteriormente por esta Diretoria, a bolsa constante do processo acima referido foi aprovada pela FAPESP."
Agora é torcer pra que eu consiga conciliar a minha vida acadêmica com a moderação deste site, porque são duas coisas da qual não abro mão neste momento. A GV é meu ponto de fuga para essa minha vida acadêmica e minha diversão, da qual eu realmente preciso.
Passado esse momento de exaltação e declaração de amor pelo site, vamos aos relatos esse meu trabalho de campo...
Bem, como falei, a primeira parada foi o PETAR, abreviação - e nome mais conhecido - para o Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira. Um lugar agradável, cujo destaque são suas cavernas. O acesso ao local não é dos mais simples e passa por uma cidade (ou bairro, não tenho certeza) bem pobre. Uma verdadeira reflexão sobre a capacidade turística do local e o pouco aproveitamento da comunidade que o cerca.
Paisagens no estilo Lost Planet II ou Final Fantasy foram uma constante no parque. Cheguei a rir sozinho imaginando situações "in game" acontecendo na minha frente.
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Só é uma pena a minha câmera estar quebrada. Devo pegar as fotos do pessoal essa semana e posto aqui. Viajamos para Jacareí, onde dormimos para o segundo dia.
PS: Espero que tenha sido uma infeliz conincidência, mas nos três lugares que fomos TENTAR jantar na cidade, nenhum tinha um serviço decente. Isso gerou uma má impressão geral na turma.
Campos do Jordão, segundo dia de viagem, foi um lugar pra se fazer turismo e não trabalho de campo. Gastei horrores na cidade (isso porque é baixa estação), com direito a boa e velha Baden Baden, cerveja alemã de primeira. De quebra, flagrei um Dodge Challenger (esse mesmo dos Need For Speed)passando pela cidade e um Cadillac Escalade (do Need Undreground 2) com escolta de dois carros (na hora pensamos ser o Maluf indo comer o pastel dele...).
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A vista do mirante é linda, dando pra contemplar todo o Vale do Paraíba (sabe essas paisagens tipo "Senhor dos Anéis"? Então...). A grandiosidade do vale ganhou uma nova dimensão na minha concepção.
Acho que meus planos de visitar a cidade na alta estação, durante o Festival de Inverno foram pro espaço. Se só pra comer e beber bem já deixei R$50,00, imagine pra passar dois dias, ao menos? Ou eu financio meu PC ou vou para Campos... Dúvida cruel.
E para quem acha que em Campos não existe favela, se engana. Na entrada da cidade, do lado esquerdo, tem vários bairros de classe baixa que estão subindo o morro.
Dormimos em Jacareí, porque as pousadas em Campos são caras (óbvio). Mas os hotéis são lindos.
Terceiro dia, São José dos Campos e muita chuva. Nesse dia tivemos palestras com o pessoal da Votorantim. O papel nunca me pareceu tão barulheno e fedido... A produção de celulose, o forte da fábrica, usa muita água e máquinas pesadas, resultando numa poluição sonora, ambiental e climática fora de série, por mais que façam programas para minimizar os impactos.
Fomos, então, para a Univale, onde tivemos uma palestra sobre a importância da cidade para toda a dinâmica de São Paulo (o que, na verdade, foi um puxa-saquismo dos infernos do grupo que agendou a viagem pra essa cidade, já que a maioria dos integrantes eram de São José).
Fomos para o Museu da Cultura da cidade e tivemos uma última palestra sobre o trabalho do museu.
O busão começou a dar pau e chegamos tarde da noite em Cachoeira Paulista. Assim, a viagem foi tensa e não deu pra descansar muito. Da cidade em si, posso dizer que ela é um ovo de tão pequena. Nós estávamos na cidade pra visitar o CPTEC, Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (quem mora na região do Vale do Paraíba e assiste a TV Vanguarda sabe do que estou falando). O grande problema foi a hospedagem que o grupo que agendou a visita arranjou... Um verdadeiro muquifo, com direito a quarto com quatro camas empilhadas, numa tentativa de improvisar uma "quadriliche", fora uma decoração macabra com bonecas coladas na parede e flores de plástico pra todos os lados, inclusive no chuveiro! E por falar nisso, eram só dois chuveiros pra trinta pessoas! TRINTA!
Sem chances de dormir num lugar macabro desses, fui procurar no meio da noite, uma outra hospedaria (lógica de "pô, é uma cidade com forte apelo religioso, pousadas para pessoas que pagam promessas e afins devem ter ao montes..."). Carregando as malas, numa cidade desconhecida, pra lá de meia noite e sem nenhuma alma viva nas proximidades, numa sensação de solidão total... Se nas malas houvessem armas, já estaria me sentindo num survival horror (se bem que a sensação era bem nesse sentido já...).
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Com muita sorte achei uma hospedaria digna. Pousada dos Lírios, se não me engano. Paguei até a mais pela hospedagem, numa forma de agradecer pela ajuda dada a tão tarde da noite (afinal, nem eu daria hospedagam na minha pousada para um cabeludo todo de preto, com malas nas costas, que aparece do nada no meio da noite). Fomos para o CPTEC ao amanhecer
Passada essa noite traumatizante, as coisas voltaram aos eixos. Melhoraram muito, aliás.
O ônibus foi pra concerto, ainda em Cachoeira Paulista. Almocei junto com o professor num outro muquifo (Ok, não melhorou muito). Cheguei a pensar que ia vomitar depois de comer aquele prato de arroz, feijão e um bife e carne moída pra lá de suspeitos. Pensei comigo mesmo: "Tem gente que não tem nem isso pra comer..." e mandei bala. Mas pedi uma Coca Cola pra ajudar a descer...
Seguimos viagem para Minas Gerais! O plano era ficar só no estado de São Paulo, mas tivemos que alterar os planos uns dias antes de começar a viagem e a saída foi ir pra Minas. E foi uma ótima mudança.
Chegamos por volta de nove da noite em São Tomé das Letras. Já ouviu Ventania? Aquele compositor e músico drogadão malucão? Ele é dessa cidade, o que ajudou a tornar a mesma mais famosa (ela também é parada obrigatória para quem gosta de exoterismo e essas coisas de ufologia). Além dessas peculiaridades, a cidade não tem ônibus circular, o que já ajuda a imaginar o tamanho da cidade. Também não tem ônibus intermunicipal que vai direto pra mesma. Tem que fazer baldeação e parar no caminho. ?? um lugar de outro mundo, em todos os sentidos. Fora as ruas, pavimentadas em pedra. Não existe asfalto na cidade.
Mas o melhor é a sua comida e o povo hospitaleiro. E aí eu faço jus ao título do post: Deus Salve Minas Gerais! Que que é isso?! Perdi uns dez anos de vida, só comendo torresmo, carne de panela que derrete na boca e outras iguarias ímpares. Fora a malvada da cachaça! De graça no Restaurante Ponto Certo, um dos melhores da cidade: R$13,00 e coma a vontade! R$13,00!!! E a dona do restaurante ficou fazendo companhia, junto com mais uma galera. Num ambiente hospitaleiro desse, perdi a noção do tempo (Ok, a cachaça ajudou um pouco). Resultado: não sou de comer por gula, mas nessa noite eu abri uma exceção... Sai do restaurante ligeiramente bêbado, com a barriga explodindo e sem nenhuma vontade da noite acabar.
Dormimos num hotel muito bom, com um café da manhã animal. Pão de queijo mineiro é outra história mesmo...
Passeamos pela cidade junto com dois guias, que mostraram os pontos turísticos da pequena cidade. De dia, perceber a dimensão da cidade e suas características foram mais simples. A cidade vive do turismo que já citei e da extração de quartzito, uma rocha branca utilizada para ornamento em contruções e artesanato. Enchi a mala com pedras e lembranças da cidade (sim, paguei pra comprar pedras, por mais tosco que isso soe).
Almoçamos no Ponto Certo de novo, e aí foi a desforra. Ainda estou digerindo esse almoço de tanto que comi (de novo). Foi uma viagem gastronômica e devo ter ganhado uns quilos nessa brincadeira.
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Fica a dica: Quem tiver a oportunidade, viaje pra São Tomé. Juro que não dá pra se arrepender.
Viajamos (com muito pesar) para São João Batista do Glória, ainda em Minas. Trajeto longo e cansativo, com muitos rios e grandes lagos no caminho, dando uma prévia do destino: Hidrelétrica de Furnas.
Chegamos ao anoitecer na cidade e mais jantar mineiro... Mas dessa vez passei batido, ou ia vomitar de tanto comer... Dormimos num hotel confortável, mas com um chuveiro que custou a esquentar... Passei um frio dos infernos nessa noite.
Acordamos cedo e fomos pra Furnas. Só tem uma palavra: Grandiosidade. De cima da barragem, de um lado, um grande lago. Do outro, um rio correndo bem abaixo (uns 100 metros, se não me engano), com densa mata dos dois lados, no melhor estilo "final da abertura do Grandia", pra PS1 e Sega Saturn.
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Viajamos de volta para São Paulo, com destino para São Carlos e aí aconteceu algo engraçado, mas assustador de certa forma... Um dos caras esqueceu a câmera digital na hidrelétrica, nos obrigando a fazer meia volta (o cara em questão é um tiozinho de hábitos duvidosos, que muitos não aguentavam mais a sua presença na viagem). Pois bem, perdemos uma meia hora nessa brincadeira (mas, pelo menos, acharam a câmera). Chegando num dos acessos para Ribeirão Preto, cidade pela qual passaríamos para chegar em São Carlos, um bloqueio da DER impediu a viagem. Segundo o fiscal, a ponte que leva até Ribeirão tinha caído há uns trinta minutos atrás... Resultado: Se não fosse o tiozinho e sua câmera, eu poderia estar estampando os jornais, junto com mais vinte e nove pessoas, numa trágica manchete...
Não suficiente de emoções, para contornar o bloqueio, tivemos que cortar um canavial (Ribeirão é cercada por canaviais). Ou seja, estrada de terra e muita poeira. Dirt 2 na mente, mas como era um ônibus, pensei mais em MotorStorm ou até mesmo Fuel...
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Como brinde desse rally inusitado, o busão fumegou geral na entrada de Ribeirão, nos obrigando a parar num posto de gasolina (com muito custo e fumaça de óleo de motor queimado pra trás). Por sorte, o problema não era sério (não muito, pelo menos) e seguimos viagem depois de meia hora.
Chegamos por volta das sete da noite em São Carlos, enfim. Como essa cidade ficou por conta do grupo que fazia parte, sabia como seriam as coisas, o que facilitou muito. Hotel com TV a cabo e internet no saguão (a dois reais a hora...), um verdadeiro luxo para quem, até dias atrás, estava quase dormindo num muquifo com bonecas penduradas na parede. Sai na caça de um caixa eletrônico e acabei me perdendo na cidade... Juro que me considerei o pior geógrafo do mundo nessa hora... Huehueheuh!
Amanhece o último dia e fomos pra UFScar, onde teríamos uma palestra com o pessoal da Incoop, cooperativa que desenvolve trabalhos com a comunidade da cidade e de outras regiões, numa tentativa de inclusão social e economia solidária. Um trabalho fantástico que, inevitavelmente, acabei associando ao meu trabalho no Gauss.
Almoçamos na entrada da cidade e rumamos para Ourinhos, chegando no final da tarde.
Eis aí a minha epopéia. Juro que assim que tiver fotos, posto aqui.