Um mundo no qual as organizações substituíram os governos e estão livres para atuar como desejarem certamente é um cenário que irá nos fazer reavaliar o conceito da "Mão Invisível" e do liberalismo econômico. O ano é 2069 e o governo se tornou obsoleto. Em seu lugar apareceram diversos sindicatos e companhias que estão em uma corrida para desenvolver o mais avançado bio-chip, dispositivo que permite que seu usuário se conecte a rede e até mesmo controlar outros dispositivos. Este é o mundo de Syndicate, jogo desenvolvido originalmente pela Bullfrog e que voltou em 2012 como um FPS criado pela Starbreeze e distribuído pela EA.
Transformar um dos mais aclamados jogos de estratégia e transformá-lo em um FPS foi um movimento arriscado da companhia Starbreeze. Se distanciando de diversas opções estratégicas ou mesmo da necessidade de raciocínio, Syndicate agora é um jogo de ação com uma campanha linear, diversos gadgets e muitas balas cruzando o cenário. Os primeiros trailers do jogo sugeriam que ele tomaria uma postura similar à de Deus Ex, mas isso não aconteceu. Em 2069 as companhias comandam o mundo. Seus chips são o principal desejo de consumo das pessoas, pelo menos das que tem acesso a tecnologia. Nesse cenário as negociações entre as companhias foram substituídas por guerras e violência. Esse cenário parecia ser interessante e até mesmo uma crítica ao mundo capitalista, mas o enredo é extremamente superficial.
O que começa como uma simples missão de infiltração para eliminar um dos principais pesquisadores de um conglomerado rival se torna uma conto moral de agentes duplos, traições e memórias esquecidas da infância do nosso personagem. Os diversos personagens são bem trabalhados possuindo certa profundidade e o enredo é repleto de reviravoltas. No entanto, a narrativa de Syndicate é extremamente convencional e sua revelação final não consegue igualar o clima que foi criado até sua conclusão.
Felizmente os problemas de enredo são superados pela mecânica de Syndicate. Apesar do jogo não trazer inovações ao gênero de FPS, seus controles e mecânicas foram muito bem executados. O diferencial do jogo está no chip Dart 6, essa tecnologia permite que o jogador desenvolva diversas habilidades. No início do jogo o personagem tem acesso a três habilidades: suicídio, backfire e persuasão. Suicídio faz com que os inimigos utilizem as armas para acabar com suas vidas, backfire atordoa e confunde os inimigos ao fazer com que suas armas falhem e persuasão faz com que o inimigo se alie a Kilo e ataque seus antigos aliados para então cometer suicídio. Os poderes recarregam automaticamente, mas matar inimigos e realizar headshots torna esse tempo de recarga menor. Essa mecânica pareceu deslocada no jogo, já que não existe um motivo para que ações externas aumentem a velocidade de recarga de um componente eletrônico. Apesar do jogo não possuir a mesma profundidade experimental de Deus Ex, a tecnologia Dart 6 garante ao título uma variável estratégica no combate impedindo que Syndicate seja apenas "mais um shooter".
O aspecto visual do jogo apresenta uma disparidade muito grande. Enquanto os incríveis detalhes e qualidade dos gráficos vai simplesmente reforçar para o jogador que ele está vivendo em um mundo cyberpunk, mas a simplicidade de outros locais (como a área tutorial para o uso de armas) vai fazer com que você rapidamente esqueça o brilho das luzes de neon que iluminam a empobrecida sociedade. Luzes azuis irão dominar o cenário durante a jornada de Kilo pintando assim o cenário futurista. Enquanto a desenvolvedora utiliza a iluminação em qualquer chance que se apresente, o cenário apresenta um design clean enquanto mistura um visual da empobrecida Nova York, bases militares no oceano atlântico e becos na China. O cenário e personagens são muito bem finalizados. Como um todo Syndicate apresenta uma boa qualidade visual e arte gráfica, mas não podemos deixar de apontar que em muitos momentos a violência da história e gráficos vai muito além do nível que seria necessário.
A trilha sonora do jogo acompanha a ambientação cyberpunk. A música eletrônica de Skrillex combina muito bem com o cenário futurista de Syndicate. A atuação dos atores também é um ponto alto do jogo, com destaque para Brian Cox e Rosario Dawson (apesar de que Rosaria já foi mais bonita). No entanto o som ambiente deixa um pouco a desejar. Chega a ser irônico o fato de você poder executar qualquer civil e mendigo que encontra enquanto esses personagens não possuem nem ao menos uma frase pré-programada. Os sons de passo e de tiros também são um pouco confusos, impedindo que você localize o inimigo antes de sofrer os primeiros tiros e se localizar pelo dano levado.
Esse é um problema tanto no modo campanha quanto no multiplayer coop. A falta de detalhes impede a diferenciação entre seus aliados e inimigos, muitas vezes eu utilizava o DART overlay simplesmente para ver quem estava presente no cenário (já que seus aliados são identificados pela cor azul e inimigos pela cor laranja). No modo multiplayer os cenários são mais curtos mas lembram mais o jogo original do que o modo campanha da nova versão. O jogador escolhe entre três classes: Defensor, Suporte e Offense (que seria o Assault). Customizações adicionais como habilidades de breach e armas estão presentes. O destaque desse modo vai para o level design e desafios. Para sobreviver no multiplayer será necessária uma equipe balanceada e com o maior níumero de habilidades diferentes, não será possível completar os mapas tentando ser um exército de um homem só.
Finalizando, Syndicate é um FPS que procurou se diferenciar dos outros diversos títulos do gênero presentes hoje no mercado e até certo ponto conseguiu atingir esse objetivo. O titulo é um jogo levemente divertido e se você nunca conheceu o jogo original certamente irá apreciar. No entanto, se você chegou a experimentar a obra-prima que era a produção da Bullfrog será difícil apreciar o novo jogo. Para nós o principal problema do jogo é que ele se chama Syndicate e apesar de ser um bom game não consegue atingir o nível de produção necessária para carregar esse nome.
Nota final: 7.0 (Apenas para seguir as regras de review, prefiro um sistema de recomendação com estrelas do que uma nota fixa)
Imagens
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