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OBS: Esse texto foi escrito por mim e publicado no site Estante Geek, no qual sou um dos colaboradores. Estou republicando aqui porque gostaria de saber o que as pessoas acharam desse jogo, já que eu certamente fiquei impressionado - e garanto que não é fácil eu dar nota 10. Sério. Boa leitura!
A experiência de sobrevivência definitiva
Ao final de Last of Us, eu estava exausto. O jogo exigiu tanto de mim emocionalmente e até fisicamente que ao ver o rolar dos créditos, encontrei-me satisfeito, aliviado e ao mesmo tempo, senti lágrimas atrás dos olhos. Aproximadamente na metade do jogo, eu estava incerto se queria que aquilo acabasse logo devido à tensão crescente e insuportável que a história e a jogabilidade me ofereciam, ou se queria que durasse muito mais, pelo mesmo motivo. A verdade é que mesmo tendo terminado o jogo há alguns dias, seus perigos e seus personagens ainda estão em meus pensamentos - principalmente a absolutamente perfeita e complexa cena final.
Acompanhamos a jornada de Joel e um pequeno grupo de sobreviventes num mundo destruído por um fungo capaz de infectar humanos, os tornando violentos e animalescos. Numa busca por armas prometidas e desviadas, Joel e Tess (outra sobrevivente) encontram Ellie, uma garota de 14 anos que aparentemente é imune à bactéria, tornando-se uma faísca de esperança no descentralizado e perigoso mundo dos sobreviventes - em certos momentos, os humanos são piores que os infectados.
Enquanto que em mãos errados, toda a complexidade do mundo totalmente sem hierarquia de Last of Us e a relação que surge entre Joel e Ellie pudesse se tornar um poço de clichês e pieguice, aqui, num dos melhores roteiros escritos nos últimos anos (não só de videogames), o elo emocional que surge entre os personagens e o jogador é intenso e não seria tão poderoso num filme, por exemplo. Envolvido na história, em muitos momentos encontrei-me em literal desespero pelo destino dos personagens, o que torna as partes jogáveis absolutamente assustadoras. Num equilíbrio perfeito entre ação e furtividade, a jogabilidade perfeita oferecida pela Naughty Dog consegue passar toda a tensão das situações nas quais os personagens se envolvem: o medo do escuro, de barulhos distantes, a dificuldade de encontrar suprimentos (os cenários são gigantes, mas não pense que em cada quarto achará alguma coisa), a dificuldade de mirar e atirar sem desperdiçar a também escassa munição.
E já que mencionei os cenários, vale notar que apesar de ser um jogo linear e sem finais diferentes (uma escolha acertada, porque o final é perfeito) muitas vezes é possível se perder até encontrar o que você deve fazer, mas isso nunca é monótono, pois a direção de arte espetacular faz parecer como se cada um dos milhares de quartos abandonados e vizinhanças desertas realmente, em algum momento no tempo, abrigaram vida. Existem diversas casas completas para explorar, cada uma com suas particularidades, como quartos claramente femininos ou masculinos, com pôsteres de bandas e uma decoração específica, denunciando um resquício da personalidade de seu antigo habitante. Em um local abandonado particularmente assustador, é possível encontrar sapatos e roupas jogadas em camas improvisadas com lonas por cima.
"Assustador", por sinal, é uma palavra que eu usei várias vezes tentando descrever Last of Us, já que apesar de ser fã incondicional de jogos de terror, poucas vezes me encontrei tão desesperado e tenso (note que já falei "tenso" e "tensão" uma meia dúzia de vezes até aqui). Além das extensas e intermináveis tentativas de furtividade que ocasionalmente dão muito errado e explodem em tiros e socos, o jogo ainda tem um design de som espetacular que consegue, usando pouca trilha-sonora, deixar o jogador roendo o controle de medo. A fase em que Joel cai na esgoto e fica sozinho por vários minutos é um terror - nesse ponto, já sabemos o que os humanos e os infectados são capazes de fazer, e em uma posição extremamente vulnerável na escuridão total, caminhamos "pianinho" numa infinidade de corredores e quartos em busca de um gerador, enquanto rangidos e estalos distantes nos fazem temer por aparições, sejam de humanos ou infectados. Essa parte só se compara em tensão àquela em que Joel precisa eliminar um franco-atirador numa casa no fim da rua, numa longa caminhada furtiva enquanto lida com os outros humanos que surgem no caminho.
Outro ponto forte da jogabilidade é o equilíbrio dos combates: sozinho, um infectado ou um humano são relativamente fáceis de se lidar com. Mas em grupo, qualquer um destes é terrivelmente perigoso. Os humanos são inteligentes, sempre forçando o jogador a quebrar sua rotina e tentar isolá-los para se livrar de todos um por um (a melhor estratégia), é quase inevitável que algum momento algo dê errado e você é obrigado a participar de um tiroteio. A mira é eficiente e difícil, nos fazendo sentir o peso de cada bala desperdiçada, o que geralmente leva à um combate corpo-a-corpo no soco ou com o uso de armas improvisadas (pedaços de madeira, tacos de baseball, canos, etc.). Já os infectados são cegos e se guiam pelo som, o que não facilita em nada, já que é preciso caminhar bem devagar e tomar cuidado com objetos que podem ser derrubados e vidro quebrado no chão. Sem falar que, após o primeiro tiro, todos os que estiverem perto já te ouviram.
Por fim, é impossível falar de Last of Us sem mencionar o excepcional trabalho de dublagem. A versão em português ajuda quem não gosta de legendas e facilita no entendimento da história, mas soa artificial e mecânica na maior parte do tempo. A versão original em inglês, altamente recomendada, tem um trabalho vocal dedicado de todos os dubladores, mas claro que Joel e Ellie, dublados por Troy Baker e Ashley Johnson respectivamente, são a cereja do bolo. Conferindo peso e personalidade à suas versões virtuais, é quase inevitável ver os dois como figuras fortes e reais no decorrer do jogo. Utilizando vários pequenos diálogos que ocorrem durantes partes jogáveis sem interromper a ação, a Naughty Dog abusa do recurso para conferir realismo e desenvolver a história sem o uso excessivo de cenas não jogáveis.
Last of Us é um jogo que assim como poucos outros, consegue ultrapassar os limites do puro entretenimento, oferecendo ao jogador uma experiência completa, que vai do terror absoluto ao mais belo dos sentimentos, um que, de tão intenso, nem todos serão capazes de entender. Repleto de tensão e ação brutal equilibrada com momentos jogáveis belos e reflexivos, The Last of Us eleva o nível para os jogos da nova geração e é definitivamente um dos melhores jogos já feitos.
Nota: 10